Em português lusitano, Gilmarpalooza se torna “Festival do Arranjinho”

O colunista português João Paulo Batalha, consultor de políticas anticorrupção e graduado em história, redigiu um artigo intitulado “O Festival do Arranjinho”, publicado na revista portuguesa Sábado. No texto, Batalha classificou o dito Fórum de Lisboa, mais conhecido entre nós sob a alcunha de Gilmarpalooza, como um “palácio de verão” para a elite brasileira, onde juízes, advogados, governantes e empresários se misturam.

Todos os anos, Lisboa acolhe um encontro de que nunca ouviu falar, mas que é uma autêntica parada de poderes promíscuos. Que diria de um juiz que andasse em almoços, jantares e eventos de charme com empresários que têm processos pendentes junto desse mesmo juiz? Diria provavelmente que é corrupto ou que, no mínimo, estava a violar o seu mais elementar dever de reserva e recato, expondo-se a um conflito de interesses que põe em causa o seu julgamento. E se esse encontro de confraternização e palmadinhas nas costas acontecesse às claras, com datas marcadas e site na Internet, disfarçado apenas pelo véu (aliás, muito transparente) de um evento académico? (…) Bem-vindo ao ‘Fórum de Lisboa”, escreveu Batalha.

Não sei se o colunista conhece toda a extensão da nossa atual tragédia judiciária, em cujo âmbito o vergonhoso Gilmarpalooza consta como mera “ponta do iceberg”. Imagino o que diria Batalha se tivesse ciência de algumas “singularidades” brazucas, tais como a abertura de inquéritos de ofício, sem objeto e/ou prazo definido; as ordens de prisões ilegais e a mordaça imposta por guardiães de uma ordem constitucional que veda a censura prévia; e a autorização, concedida por supremos juízes, para o julgamento de casos patrocinados por seus próprios parentes.

Viramos uma caricatura de republiqueta, cujos vexames em série só passam despercebidos diante de “cegos por opção”. Se, na opinião de Flávio Dino, um evento do porte do Gilmarpalooza não poderia ser realizado no Brasil, parece que, também no exterior, nossos togados e seus jurisdicionados amigos são alvo de chacota por onde passam.

Fonte: @fernaolaramesquita no X

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